Em Portugal festeja-se livremente o 1º de Maio a partir da revolução de 1974.
No entanto, este festejo acontece de forma cada vez mais esmorecida, muito provavelmente porque as condições reais de vida e trabalho dos trabalhadores se modificaram radicalmente, as RELAÇÕES SINDICAIS com o patronato e o governo provaram-se igualmente CORROMPIDAS e transformadas em mero INSTRUMENTO INSTITUCIONAL DE NEGOCIAÇÃO e os novos problemas que surgiram com o avanço da política e ideologia do capitalismo e do liberalismo esperam ainda pela verbalização consciente dum novo equacionar das dificuldades, das modalidades da exploração e das contradições de interesses de classe.
Assembleia Libertária do Porto
1º De Maio. De memória sangrenta, comemora em primeiro lugar o dia 1 de Maio de 1886, quando se realizou uma manifestação sindical de centenas de milhares de trabalhadores nas ruas de Chicago, reivindicando a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias, o que deu início uma greve geral nos EUA. O dia 3 de Maio terminou com a morte de um dos manifestantes em confrontos com a polícia. A 4 de Maio, uma nova manifestação foi organizada como protesto pelos acontecimentos dos dias anteriores, tendo terminado com o lançamento de uma bomba por desconhecidos (que, veio a apurar-se depois, pertenciam à própria polícia) para o meio dos polícias que começavam a dispersar os manifestantes, matando sete agentes. A polícia abriu então fogo sobre a multidão, matando doze pessoas e ferindo dezenas, o que é hoje conhecido como a Revolta de Haymarket. Três anos mais tarde, a segunda Internacional Socialista, reunida em Paris, decidiu escolher essa data para convocar uma manifestação anual com o objectivo de continuar a lutar pelas 8 horas de trabalho diário. A 1 de Maio de 1891 uma manifestação no norte de França foi dispersada pela polícia, o que resultou na morte de dez manifestantes e serviu para reforçar o dia como um dia de luta dos trabalhadores. Alguns meses depois a Internacional Socialista de Bruxelas proclama esse dia como dia internacional de reivindicação de condições laborais.
A 23 de Abril de 1919 o senado francês ratifica o dia de 8 horas e proclama o dia 1 de Maio desse ano dia feriado. Em 1920 a Rússia adopta o 1º de Maio como feriado nacional, e este exemplo é seguido por muitos outros países.
Em Portugal festeja-se livremente o 1º de Maio a partir da revolução de 1974.
No entanto, este festejo acontece de forma cada vez mais esmorecida, muito provavelmente porque as condições reais de vida e trabalho dos trabalhadores se modificaram radicalmente, as RELAÇÕES SINDICAIS com o patronato e o governo provaram-se igualmente CORROMPIDAS e transformadas em mero INSTRUMENTO INSTITUCIONAL DE NEGOCIAÇÃO e os novos problemas que surgiram com o avanço da política e ideologia do capitalismo e do liberalismo esperam ainda pela verbalização consciente dum novo equacionar das dificuldades, das modalidades da exploração e das contradições de interesses de classe.
O Estado tem assumido a responsabilidade da oferta de educação em níveis aparentemente cada vez mais altos (o 9º ano, actualmente) e o objectivo primordial, conforme a lógica liberal, é “a tomada de consciência dos direitos e deveres sociais e o desenvolvimento da capacidade produtiva para apropriação e transformação da natureza em benefício de toda a população”.
No entanto, este facto é acompanhado de modelos de aprendizagem e avaliação que agudizam a EXCLUSÃO DO ENSINO, a triagem encapotada das elites e o avanço de apenas uns poucos, à partida privilegiados, para um ensino na pré-universidade e universidade caro e distintivo, reproduzindo o modelo social altamente hierarquizado a que conduz a dinâmica do desenvolvimento económico e a lei dos peixes sempre maiores comerem os menores porque se rege a profunda injustiça da nossa sociedade actual.
A mundialização ou GLOBALIZAÇÃO, selvaticamente imposta pelas grandes potências muito antes que as economias em vias de desenvolvimento dela pudessem retirar proveito, escravizando-as, consequentemente, é outra faceta desta mesma política e ideologia, que aparentemente confere as mesmas oportunidades de praticar o comércio livre a todas mas joga com cartas marcadas pelas vantagens à partida; e com um interesse unicamente pautado pela possibilidade de se encher à custa da derrota, do empenhamento e da miséria alheios.
Esta lógica de crescimento económico que tudo justifica, pondo, sem considerações éticas ou morais, o lucro e a recompensa material no investimento à frente dos custos da ANIQUILAÇÃO DOS MEIOS DE SUBSISTÊNCIA de terceiros, contaminou, pela corrupção dos agentes políticos pelos económicos, a própria ideologia e política do estado, que galopante mente substitui conceitos e revoga leis que garantiam direitos adquiridos mínimos e inalteráveis dos trabalhadores e da população em geral (como o DIREITO AO TRABALHO), privatizando serviços básicos essenciais tais como a saúde, a educação, os transportes e os serviços de água, saneamento e distribuição de energia.
O conceito, que evoluía no sentido de tornar universalmente consciente que a gratuidade é condição sine qua non para uma efectiva LIBERDADE na IGUALDADE DE OPORTUNIDADES E CONDIÇÕES, enquanto socialização de todos os bens e recursos produzidos colectivamente, é substituído pela LIBERALIDADE na COMERCIALIZAÇÃO de tudo. Devido a este significado político e ideológico, a GRATUIDADE é um CONCEITO ESSENCIAL nas lutas dos trabalhadores por melhores condições de vida.
Segundo os princípios de movimentos libertários e libertadores, a gratuidade caracteriza-se como sendo a (re) apropriação de bens e direitos, dos frutos do trabalho colectivo sobre bens essenciais comunais, tais como hospitais, escolas, universidades, estradas, caminhos-de-ferro, a água, o vento, o sol...
E só pode coexistir com a retomada do conceito da própria reapropriação pelo planeta de si mesmo, abusivamente tornado, no conjunto da sua DIVERSIDADE BIOLÓGICA, como FEUDO OU COUTADA de alguns seres humanos, que acham que podem explorar ou extinguir espécies e conspurcar o que é de todas e de ninguém a bel-prazer dos seus interesses económicos.
O modo de produção capitalista, cujo fundamento é a EXCLUSÃO crescente e a concentração da PROPRIEDADE nas mãos de cada vez menos, caracteriza a negação e a comercialização do acesso aos bens espirituais e materiais comunais, e um dos seus sintomas gritantes, que é preciso consciencializar e denunciar urgentemente na nossa sociedade, é a NEGAÇÃO DA GRATUIDADE como direito colectivo inalienável.
É preciso tornar visível o CRIMINOSO proceder das PATENTES sobre pensamentos, conhecimentos ancestrais, sementes, genes, etc., pertencentes a toda a gente e a ninguém, a introdução de PLANTAS TRANSGÉNICAS (cujos malefícios para a saúde estão provados) PATENTEADAS que polinizam as outras mas são pertença duma empresa que pode exigir pagamento pela contaminação, o que só pode conduzir ao estabelecer de relações comerciais escravizantes e a um NOVO FEUDALISMO.
Assim como é preciso cada vez mais tornar visível o criminoso paradoxo da tecnologia, que em princípio moral e eticamente evidente, nos deveria RESTITUIR COLECTIVAMENTE O TEMPO LIVRE, mas ao contrário, coloca a mais valia resultante do tempo poupado pelas máquinas a trabalhar para nós, nas mãos dos CADA VEZ MENOS DETENTORES DOS MEIOS DE PRODUÇÃO, aumentando o desemprego e, ao aumentar a PRECARIEDADE do emprego, sujeitar os trabalhadores a cada vez maiores jornadas de trabalho, a mobilidades geográficas que destroem a integração social e que conduzem à NOVA ESCRAVATURA.
Essa precariedade atinge em primeiro lugar as mulheres e, reduzindo-lhes a sua segurança e margem de manobra económica, fortalece as condições que perpetuam a dependência da família e a aceitação de JORNADAS DUPLAS de trabalho (com a acumulação do trabalho doméstico e dos filhos) e a permanência em situações insustentáveis de humilhação e VIOLÊNCIA, o recurso sistemático à dependência panorâmica de drogas barbitúricas para aguentar as desumanas condições de vida.
Ao vulgarizar a venda da imagem de indivíduos concretos como meio publicitário e ao liberalizar a venda do sexo transformando corpos em bens de consumo, o capitalismo cria ainda uma crescente ESCRAVATURA SEXUAL com milhões de crianças e mulheres envolvidas, o que evolui ainda dramaticamente no sentido de liberalizar-se e legalizar-se o proxenetismo.
Esta materialização radical do sentido da vida vinda dos agentes económicos de cima é acompanhada pela mais hipócrita das MEDIATIZAÇÕES DA IGREJA e da sua tradicional influência no manter duma mentalidade crucificada em DEUS, PÁTRIA E FAMÍLIA, cristalizadores da resignação sofredora e crítica das massas em baixo, agudizando-se a repressão sexual, a moral dupla e a comercialização encapotada tanto do sexo como da vida familiar.
Fica aquela pergunta que só nos pode remeter para a brutal tomada de consciência da dimensão da rapina a que estamos, como pessoas com direitos de decisão e cidadania, colectivamente sujeitas:
Se o estado não tem dinheiro para financiar a gratuidade da educação, da saúde, da água e luz, dos transportes e das comunicações, porque raio aumenta as verbas para os estádios de futebol, para o exército, a polícia e as despesas dos próprios políticos? Como se atreve a mandar GNR para o Iraque?
Façamos portanto do primeiro de Maio um dia de reflexão, reapropriação e luta. Não de festejo estéril de direitos adquiridos que não só nos são encapotada e descaradamente retirados como ainda se tornaram obsoletos pela evolução das condições reais tecnológicas. Lutemos pela reapropriação de todos os nossos direitos comunais, pela verdadeira igualdade de oportunidades, pela tomada da consciência da necessidade e do direito universal a estruturas libertárias organizadas desde a base, uma divisão justa do conhecimento e do poder de decisão que proteja e assegure a igualdade e a justiça social e ecológica.
2007-04-30
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