RADIO PORTUGAL MUSICA 100 % EM PORTUGUES

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Fernando Meirelles filma Saramago


O realizador brasileiro Fernando Meirelles, autor do filme Cidade de Deus, vai adaptar ao cinema o romance de José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira.

A ideia para esta adaptação vem de longe, de 1997, quando Fernando Meirelles, então ainda um realizador praticamente desconhecido, tentou comprar os direitos de Ensaio Sobre a Cegueira (escrito em 1995). Na altura, segundo conta a Folha de São Paulo, Saramago não aceitou, argumentando que não teria muito sentido transformar em imagens uma história sobre a cegueira. Anos depois, o escritor acabou por vender os direitos à produtora canadiana Rhombus Media e, ironia do destino, caberá a Meirelles a direcção de Blindness - assim se irá chamar o filme falado em inglês.

"Voltou para as minhas mãos", comentou o realizador na apresentada oficial do filme, no Festival de Toronto. Trata-se de uma co-produção entre o Brasil (O2, a produtora de Meirelles), Canadá, Reino Unido e Japão. Niv Fichman, produtor do lado canadiano, contou que o escritor português foi seduzido pela ideia de se tratar de uma co-produção internacional, sem uma "voz dominante", além de uma promessa de que o filme não cairia nas mãos de um grande estúdio de Hollywood, relata a Folha.

A primeira versão do argumento, pronta há já dois anos, é assinada pelo guionista, actor e realizador canadiano Don McKellar, que não se deixou intimidar pela prosa do escritor nobelizado: "A acção do livro é muito simples e clara. A linguagem é muito oral", disse. "Se eu apenas recontar a história, transformando os cegos em zombies, o filme será um erro, parecerá um filme de terror. Isto não seria fiel à obra. O tem essencial do livro é a dignidade humana e como, na nossa sociedade, os artifícios para mantê-la são frágeis.

"O elenco de Blindness ainda não foi escolhido mas já se sabe que o filme vai custar 20 milhões de dólares (15,7 milhões de euros). A rodagem decorrerá no próximo ano nos arredores de Toronto e São Paulo e a estreia está prevista para 2008.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Camacho Costa inspira artistas medíocres

O actor Camacho Costa que, recentemente, foi alvo das atenções da comunicação social ao anunciar ao mundo que lutava contra um cancro, tem servido de inspiração para outros artistas medíocres, dando palestras de Norte a Sul do país em que explica aos colegas como podem seguir o seu exemplo e conseguir uma projecção nunca antes alcançada.
Aos 57 anos, o ponto mais alto da carreira de Camacho Costa como actor foi a sua participação na série de "humor" "Malucos do Riso", transmitida pela SIC, desempenhando papéis inesquecíveis tais como: aquele homenzinho estranho que tem um supermercado e atende os clientes com rimas, aquele homenzinho estranho que faz de cigano num tribunal ou ainda aquele homenzinho estranho sentado debaixo de um sobreiro a falar com pronúncia do Alentejo. Para além disso, foram várias as participações em revistas à portuguesa e em algumas peças de "teatro de autor" em que era necessário um actor para interpretar um homenzinho estranho. Também trabalhou como crítico de cinema e chegou a limpar o rabo com folhas de alface ao primeiro-ministro Vasco Gonçalves uma ou outra vez. O seu imenso curriculum é sobejamente conhecido por todos nos dias que correm. E porquê? Porque, no preciso momento, em que o actor tornou pública a doença que infelizmente o aflige, deu início a uma insuportável onda de piedadezinha asquerosa que o visado aproveitou em seu benefício como se fosse a coisa mais normal do mundo tratarem-no de "grande figura do teatro nacional" para cima. Seguiram-se as entrevistas, homenagens e até uma entrevista editada em livro.
E é precisamente este o tema das palestras que, brevemente, darão origem a um livro com o título "De nódoa a astro coitadinho-O método Camacho Costa". Não são apenas os aspirantes a homenzinhos irritantes com queixo proeminente, sem dentes e que tratam todas as pessoas do sexo feminino (e uma ou duas do sexo masculino) por "minha querida" que podem beneficiar as suas carreiras com este método revolucionário e já houve outros artistas mais ou menos famosos da nossa praça a pô-lo em prática. Ildeberto Beirão, colega de Camacho nos "Malucos do Riso", um ex-serralheiro com problemas de mau hálito e líbido exagerada, anunciou ao mundo que padecia de uma forma potencialmente letal de sífilis e, quinze dias depois, a Câmara Municipal da Moita inaugurava um parque infantil com o seu nome naquela pitoresca localidade ribeirinha. "Desde que comecei a usar o método Camacho Costa, a minha carreira tem evoluído muito," afirmou Ildeberto entre arrotos.
Outros nomes do mundo do espectáculo que já recorreram a este método infalível foram o cantor Vítor Espadinha, o humorista Badaró e o multifacetado imitador de vozes Fernando Pereira que, desde que revelou ao mundo ser hermafrodita, conseguiu ressuscitar a sua carreira. Também o outrora popular Avô Cantigas admite ser um seguidor do método, referindo que "se não tivesse dotado a personagem de um cancro da próstata fictício, há muito que teria pendurado a peruca." Num futuro próximo, Camacho Costa planeia abrir um instituto para instruir artistas na aplicação do seu método. O ICCTPM (Instituto Camacho Costa Tenham Peninha de Mim) será alojado numa ala do palácio de São Bento gentilmente cedida pelo governo como prova da gratidão de todo um país pelos bons momentos que Camacho Costa nos deu ao longo de anos infindáveis. A inauguração está prevista para Abril, mês dedicado a Camacho Costa em todo o país com homenagens, fogo de artifício e colóquios sobre o actor. Simultaneamente, será lançada uma colecção de miniaturas representando as personagens mais populares de Camacho Costa nos "Malucos do Riso" esculpidas em massapão comestível.